Respeito e disposição em compartilhar são as bases para um convívio harmônico
A vida em condomínio tem, como premissa, compartilhar: não só o endereço, mas também as responsabilidades de fazer do espaço um lar que acolha a todos os moradores. Por isso, manter uma boa convivência nos ambientes comuns, como os salões e boulevards, é essencial. O arquiteto Tiago Pinheiro, da NP Arquitetura, define esses espaços compartilhados como o “coração” de um condomínio. “Habitação não é apenas o espaço do apartamento, ela se estende para construções comuns. Esses ambientes se complementam”, explica.
Além de ampliar a área de vivência das pessoas, os espaços coletivos têm outro papel importante no cotidiano dos condôminos: o de possibilitar a socialização entre vizinhos. “Eles viabilizam a interação, a troca de ideias, a construção ou o reforço de laços entre os moradores de um mesmo local”, afirma o profissional. Essa função socializadora é tão relevante porque contribui efetivamente para a melhora na qualidade de vida das pessoas: o contato humano pode torná-las mais felizes.
Gabriel Zem Schneider, arquiteto, mestrando em Design pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e sócio-diretor da Solo Arquitetos, endossa essa visão. Para ele, compartilhar é a essência da vida na cidade e os espaços compartilhados podem oferecer oportunidades para experiências e relações entre condôminos. “Os espaços comuns servem de transição ao espaço íntimo da casa e exercem a função de receber, acolher e, por diversas vezes, até personificar o caráter do próprio condomínio”. Por isso, o projeto desses ambientes merece atenção especial.
Construído para compartilhar
Pinheiro afirma que os espaços comuns devem ser planejados de forma a facilitar a convivência. Além disso, precisam apresentar elementos que convidem os moradores a fazer uso desses ambientes, como móveis confortáveis e bastante luz, natural ou artificial. Ele e seu sócio, Juliano Nowak, projetam os espaços coletivos de empreendimentos da Construtora Prestes e, para ambos, a grande inspiração desses trabalhos vem da possibilidade de transformar a qualidade de vida das pessoas.
“Nossos espaços de lazer estão sempre integrados, as áreas externas são cuidadosamente pensadas para convivência entre moradores e desenvolvidas para proporcionar diferentes sensações. São lugares pensados para acolher diferentes formas de descanso: as pessoas podem ler um livro em um banco ou uma rede, jogar xadrez ou fazer atividades físicas, por exemplo. O acabamento de paisagismo é refinado e ajuda a criar espaços privativos de relaxamento e contemplação”.
Já para Schneider, um projeto de áreas comuns precisa ter coerência e atemporalidade. “O ideal é que não seja orientado por modismos passageiros, mas que tenha originalidade e seja fruto de intensa pesquisa”. O profissional lembra que somos cercados por elementos arquitetônicos 100% do nosso tempo. Por isso, é lógico que espaços bem pensados têm grande influência no bem-estar das pessoas. Mas não é só o projeto que interfere na qualidade de vida. A forma com que os moradores se relacionam com os ambientes e, principalmente, uns com os outros é determinante para a felicidade de todos no condomínio.
Regras de convivência
Síndico do condomínio Vittace Uvaranas, em Ponta Grossa, Sauvenil Dias do Nascimento explica que gerenciar um empreendimento com cerca de mil moradores é quase como administrar uma pequena cidade. “As pessoas que vivem aqui até me chamam de prefeito”, conta. Para ele, um regimento interno bem estruturado é o segredo para que tudo funcione bem. Mas isso só é efetivo se todos os moradores fizerem sua parte. “Somos como uma grande família. Para conviver bem, temos que ter respeito pelas regras e uns pelos outros”.
Na hora de usar os ambientes comuns, por exemplo, é preciso respeitar o espaço já ocupado por outras pessoas: se um vizinho está lendo ou meditando, executar atividades mais barulhentas no mesmo local pode gerar incômodo. Nesses momentos, usar o bom senso e se colocar no lugar do outro, considerando se sua atitude pode ou não ser inconveniente, são boas estratégias. Especialista em gestão de negócios da construção civil, Tiago Pinheiro esclarece que as pessoas precisam ter em mente que compartilhar não é perder ambientes exclusivos, mas sim conquistar o direito de ocupar mais espaços além das paredes do próprio apartamento: “Todos ganham mais vivendo em comunidade”.